25 de abril de 2008

um paraíso para cada dia do ano

Assim é San Blas. Umas ilhotinhas perdidas no azul caribenho. Umas grandes, outra cenário de filmes com um único coqueirinho na areia branca. Paradisíaco. Tudo ali é propriedade da etnia indígena kuna sendo que os mais velhos não arriscam nenhuma palavrinha em espanhol. Boa parte dos turista fica em casas de família e hotéis improvisados.
Foi no meu segundo dia por lá conheci Andreia. Sempre piro pensando que as pessoas que conheço e gosto nas viagens se morassem na mesma cidade que eu jamais nos cruzaríamos. Que o que nos une é normalmente a paixão por estarmos em um local desconhecido, uma língua diferente que permite que muito se fantasie sobre o outro nas lacunas do incompreensível. E nada mais. Mas da Andreia seria amiga, com certeza. Assim depois da praia fomos dar uma voltinha na vila. Curiosa por um cartaz que explicava o que era violência contra a mulher, entrei num hospital. Li e puxei qualquer assunto com o cara sentado na frente da tv. Daí a pouco já estava confortável na cadeira ao seu lado, e outro pouco mais Andreia do outro lado. O homem era kuna, nascido na ilha ao lado. Foi para Cuba fazer medicina, depois trabalhou na Cidade Panamá e agora voltava para trabalhar com seu povo. Tinha uma visão que mesclava a crítica de quem vê de fora e a compreensão de quem cresceu dentro. Contou que nos rituais de casamento os amigos do homem buscam ele e carregam na carcunda até a cabana da noiva. Colocam-no numa rede enquanto ela aguarda escondida. Os amigos então buscam-na e colocam na mesma rede. Ali se faz a cerimonia. Disse que antes ela ficava numa rede num extremo da oca e ele noutra – com os pais da moça bem no meio. A cada noite eles se aproximavam uma redinha e só depois de romperem todas as barreiras os pombinhos podiam viver sua lua de mel, bem ali ao lado dos sogrões. Mas que hoje o processo é mais rápido e na primeira noite já vale um amorzinho. Fiquei imaginando a noção de intimidade que eles tem. Coisas que para os ocidentais derivados dos europeus são totalmente tabus e vergonhas para eles deve ocorrer numa normalidade deliciosa. Se aproximou as onze da noite, hora em que o gerador pára, e antes da privacidade nas ocas se iluminar, caminhamos de volta para o hotelito que tocava Nirvana no DVD.

Um comentário:

euinsisto disse...

cardoso!!!! tô gostando de ver... quero mais posts!!!! beijos.