Vi que não consigo estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Ou estou inteira, mesmo que um dia em cada parte, ou não estou em lugar nenhum. é um tipo de fidelidade que me acompanha, de ter que estar toda disponível para algo/alguém/para mim. Assim, hora de centrar-me num só blog. re. Já que o tema é migração, migremos pues. Vou concentrar os textos da viagem no América Sem Fronteiras e o Saidela fica assistindo assim paradinho. Pode ser que uma paixão ou uma tpm me faça voltar aqui para um desabafo. Mas a princípio estarei lá, aguardando sempre com uma historinha, videozinho e fotinha. Tentarei postar algo todos ou quase todos dias allá. Nos vemos?
25 de maio de 2008
migrante fiel
22 de maio de 2008
calo nas cordas vocais e madre tierra caliente
quando minha irmã mais nova, taisinha, nasceu eu fiquei tão enciumada que travei a garganta. emudeci. calo nas cordas vocais. dei vários cascudos nela quando chiquitita. aos poucos fui entendendo que ela somava mais que diminuia. hoje tais é amiga, irmã, orgulho, ídola e fã. amo como uma mãe ama um filho. como boas irmãs se querem. como melhores amigas se adoram. (ela também tem blog, é bem engraçado... rere... irmã coruja! taqui o link) mas o saidela deve estar se sentido assim, meio calo nas cordas vocais. nasceu o blog queridinho, hospedado na marie claire e eu simplesmente parei de amamentar, de fazer cafuné, de contar piadas. e agora ainda venho aqui para fazer propaganda do irmão mais novo. mas aos poucos acho que os dois vão se entendendo e um vai tendo orgulho do outro até entenderem que são complementários. rere.
está no ar o blog sobre migração feminina e cultura centro americana: http://americasemfronteiras.com.br/ entrem comentem critiquem se revoltem se apaixonem ou só deem uma espiadela. também está no ar parte da primeira matéria para a fórum sobre migração (clique aqui para ir lá). critiquem. estou distante, então faz bem saber o que funciona e envolve e o que cansa...mas um pouco da vida aqui, para que o filho mais velho também se sinta especial...
acabo de voltar de arenal, o único dos cinco vulcões costa riquenhos que está ativo. nossa. que emoção. quando se chega perto (mas nem tão perto) parece que nos aproximamos de uma pipoqueira gigante. póc.... póc, tbum... póc. as pedras em fogo se jogam morro abaixo queimando num líquido vermelho vermelho. a noite fiquei lá observando os fogos de artíficio invertidos na beira de um rio. fogo líquido, canto de água, ar puro no pulmão, sentada na terra. nunca havia sentido o planeta tão vivo, tão quente. emocionante. no céu a lua cheia cheia coroando o presente da madre tierra. lindo!
16 de maio de 2008
pô, aí, pode crer...
pô, este vai ser um post tipo assim, papo de surfista de primeira marola, sacualé? fiz minha primeira aula de surf! sensacional! nos primeiros cinco segundos em pé na prancha em movimento (lento, ok) me senti uma proof. acabou a primeira aula e fiquei lá mais um tempinho. a maré subiu e fuime. aí quando começou a baixar again, voltei. não entendia porque o professor bonitão mandou surfar só nas waves já quebradas, com espuminha branca e fui tirar a dúvida. rere. caxote nela! sai girando embaixo dágua com a prancha voando. mas lembrei que tem que proteger a cabeça com os braços para a paradinha de trás não estourar os miolos (isto fiquei sabendo enquanto comia nuddles com um californiano em san josé, isaac, que me deu uma aula informal entre mordidas). voltei para as ondas quebradas e senti a maior emoção de ficar lá em pé em cima da marola aproveitando a brisa, o vôo, a água. o sol se foi detrás das nuvens e nem me dei conta. a lua quase cheia iluminou um pouquinho mais e fiquei lá, no nada. pô, só, pode crer.
14 de maio de 2008
de tanto ir às vezes da vontade de ficar
fui numas prainhas no sul da costa rica, do lado do caribe. quando entrei no mar comecei a chorar sorrindo, num obrigado por estar neste mergulho. to me sentindo aberta. e assim, sem muito esperar e bastante indo, as coisas parecem fluir. na tal praia linda, punta uva, cercada por mata e de um azul bem azul, conheci edswart. um holandes que molecóide chegou ali num dia de chuva e também fez uma prece. comprou um terreno, construi uma casa, outra, mais uma. aluga todas (clique aqui para ver que belezura de casas). ia entrevistá-lo dez minutinhos porque o ônibus já ia passar em vinte. sentei e ele começou a contar de suas andanças, na sala de sua casa - uma coisa sem paredes, cercada por uma matinha, com tudo ali exposto, aberto; onde o vento ia ou voltava e os macacos gritavam no teto. logo chegou sua namorada argentina e dançarina. perdi o ônibus, ganhei o almoço e um convite para o jantar. jantamos sorridentes, vimos um doc da bbc sobre vida marinha. dormi. acordei morta de fome, peguei uma bici e fui desayunar. depois da primeira parada - onde a comida tinha acabado quase levando meu humor - e outros cinco quilometros cheguei numa outra praia onde uma casita exibia a placa "desayuno". tudo fechado. olhei um pouco mais e surge um mocinho despenteado. "quero frutas". "ok, ensalada con granola". cinco minutos mais e volta. "se acabaran las frutas". "lo que sea. tengo hambre." junto com os ovos mexidos o menino botou na mesa o violão e começou a cantarolar e conversar. "vou daqui a pouco pegar lagosta, quer ir?" lanchinha adentro, mar afora. um visual incrível: mar azul azul, uma ilha chamada punta mona, muitos peixes nadando nos corais. fiquei ali respirando o ar e a água. a camera que ficou no quarto choramingou. mas meus olhos, de certa forma, comemoraram aquela liberdade sem molduras. fim de tarde e pé na bici. jantar de pepino e mortadela com por do sol. quarto e trabalho até meia noite. o dia perfeito, harmonico. des de então tenho tentado estar mais, escutar mais. pensar menos. não sei, mas tá bom. fui dali com vontade de ficar - primeira vez na viagem. com vontade de ter uma casa. fotografei detalhes da beach house de edswart. coloquei numa pasta chamada "estudos para uma casa". ele viu no desktop e sorriu. contei que tirei foto dos detalhes da casa. ele também riu e encerrou: "a gente pode copiar tudo. só não pode copiar a gente mesmo".
4 de maio de 2008
ócio
Parti para o sul da rica costa. Quase no caribe, uma reserva dentro da localidade de bananito. Sin, por supuesto, hay mucha banana. Amarela grande, média, rosa com gosto de ouro, delícia. A região, abandonada por boa parte da colonização só ganhou importância no século XX quando notaram que ali era mais perto da Europa e fizeram um ferro carril (que aqui pronunciam com um sotaque bem gringo, tipo feroucariul) ligando ao Pacífico. As coisas começaram a ser escoadas para o porto de Limón e então um gringo começou a plantar bananas. Funcionou. Assim começou a República das Bananas, como se autodenominam, nem sempre com orgulho, os ticos. Ah! Para construir o trem trouxeram chinos e não lembro quem. Febre amarela e malária detonou os funcionários e então recorreram as ilhas caribenhas e alugaram escravos africanos. Depois da construção largaram os negões por aqui e até meados do século XX eles eram proibidos de ir para capital (uia.). Resultado disso e de migrações recentes, a costa atlântica é super negra e fala inglês jamaicano tanto quanto espanhol. Assim foi a história que me contou Justo, guia do tal lodge que fiquei, o Selva Bananito. Ali, paz. Cheguei um tico cansada. Dormi nem três horas acabando de organizar as coisas internéticas e me preparando para o nada de eletricidade. No caminho um sol que pareciam dois. Uma espera de quatro horas num restaurante que não tinha comida nem coca cola. Chegaram os alemães que iriam junto, conversando, of course, em alemão. Pegamos um carro que andou até o derrumbre da estrada e aí cruzamos a parte caída a pé para embarcar no 4x4 do outro lado. No carro tocava um reggaeton que eu tentava imaginar o que cantava me divertindo. O reggaeton é tipo funk carioca: super bailantes mas com umas letras bem escrotinhas. E neste clima cheguei no tal lodge. Lá um silêncio já esquecido depois de tantos dias na capital. Só se quebrava o nada ruidos de folha, cantos de dezenas de pássaros, os passos. Em bem poucos minutos o cérebro quente tshaaaaa. Nos dias que seguiram luxos de Jane: caminhada de sete horas, rappel em cachoeira, tirolesa por entre copas de árvores, cavalgado com o cavalo mais lindo que conheci, tree climbing – subi quarenta metros numa corda, meus musculos dos braços e costas me recordam a todo momento a estripulia… mas lá de cima gritava feito criança o “uo uo uo oouoooo”. Na primeira noite, com todas as estrelas do hemisfério norte na minha janela, assisti um filme de uma diretora costa riquenha, ishtar, sobre migração nicaraguense (o filme é tema da terceira matéria para a TAL, brevemente estará online…). A bateria do computador assim acabou e só no dia seguinte descobri que seria impossível recarregá-la. Havia algumas pendencias de trabalho para aqueles dias mas lembrei de mamãe - “o que não tem remédio remediado está” - e relaxei. Creio que só então entendi o significado do ócio criativo. Ali, com o silêncio, o corpo ativo, bons papos e risos com um casal que chegou depois (já estava começando a rir das piadas em alemão, duro) vi meu cérebro funcionado de uma forma tão harmônica… Um texto que não via saída tomou forma espontaneamente numa caminhada, o outro se escreveu inteiro em minha cabeça. O cronograma se fez óbvio, as dúvidas receberam respostas ou reticências. Tudo pareceu mais simples que era. E é. E tem que ser. Desligando a máquina da tomada me conectei. Necessário as vezes, não?